Ao começar lendo o título desta coluna, muitos devem estar achando que estou falando de uma nova raça, obtida a partir de experiências de laboratório. Mas a verdade é que todos somos seres em permanente mutação.
Vejo nas minhas quatro décadas de existência, que passamos por mudanças, desde as mais discretas quase imperceptíveis, até as radicais, pelas quais às vezes nem nós mesmos conseguimos nos reconhecer. O ser humano é o produto de um número gigantesco de células agregadas em conjuntos, grupos, órgãos e finalmente em sistemas. Todos estes integrados para formar um corpo humano. O sangue levando todo o alimento e oxigênio para cada canto do nosso corpo; os músculos, ossos, cartilagens e ligamentos para nos conduzir aos nossos destinos; os pulmões e rins para nos manter limpos; o sistema digestivo para absorver a energia que nos mantem funcionando e o nosso cérebro para comandar tudo isso. Em resumo, um corpo que nasce, cresce, amadurece e envelhece até o fim e que passa por constantes mudanças.
A mutação é o processo de adaptação que garante a nossa sobrevivência. Ela acontece muitas vezes sem mesmo notarmos e, no lado diametralmente oposto, após experiências que podem deixar grandes cicatrizes. Meu pai costumava me explicar que tínhamos duas formas de aprender: “Ou tu aprende ouvindo os mais velhos e experientes ou tu aprende vivenciando na pele o que não quisestes ouvir. As duas maneiras são válidas, mas a primeira é sem dúvida menos dolorosa do que a teimosia de querer experimentar”
Esta constante mutação nos mostra que na entrada da adolescência somos os conquistadores do mundo, com enormes doses de valentia, cheios da razão e com uma hipoacusia seletiva extremamente hipertrofiada (em outras palavras: somos surdos aos ensinamentos e ordens) No entanto, nos damos bem com todo mundo e socialmente somos um triunfo! Na entrada da vida adulta, que muitas vezes é marcada pela saída do colégio e o ingresso na faculdade ou mercado de trabalho, sofremos uma mudança de contextos e ambientes, o que nos obriga a nos adaptarmos para poder sobreviver. Precisamos ajustar nossos horários e reduzir nossas vidas sociais inflacionadas. A mutação aqui é a dolorosa percepção de que a responsabilidade não é mais atribuição dos nossos pais e sim nossa. Saindo desta etapa, muitos já formaram uniões estáveis, com formação de famílias e nossos focos mais uma vez se tornam diferentes. Reduzimos as possibilidades de mantermos interação social mais profícua.
Ao entrarmos na adolescência a vida adota a investidura de um arco-íris e temos a responsabilidade de manter as cores intensas. Os anos passando e muitos de nós transformamos nossa palheta de vivas cores para o cinza e branco. As mudanças devem ser sempre feitas e vencidas com o objetivo de melhorar. Não temos o direito de piorar aquilo que ganhamos da natureza como uma dádiva.
Mas o quanto condicionamos a vida ao nosso favor e, por outro lado, quanto submetemo-nos aos caprichos que ela nos impõe? Onde erramos e como podemos melhorar? Quando parar e quando continuar? Porque rever todos os erros é crucial para evitar manter as mesmas falhas?
Nosso corpo sofre os efeitos da influência externa. As mutações dentro do nosso corpo, dentro de cada uma das nossas células é o resultado da interação que temos em vida. Nos meandros da vida de cada célula do nosso corpo, elas passam pelas mesmas etapas de todo ser humano: do nascimento à morte. Cada uma se adaptando da melhor forma possível a cada situação nova, evitando os riscos para mutações indesejáveis, que possam vir a se perpetuar de forma errada e desta maneira dar lugar aos tumores e cânceres.
O que cada célula faz, junto do nosso sistema imunológico é permitir as correções constantes, em tempo real, a cada segundo, para impedir que sejamos receptáculos de doenças malignas. Uma máxima que é de conhecimento da oncologia há muito tempo é a seguinte: “Todos os dias, a toda hora, a cada segundo, todos os seres humanos sempre formam células com defeitos e, consequentemente com potencial de formar tumores”. O nosso sistema imunológico e de reconhecimento evita que estes defeitos sejam replicados e repetidos em células filhas. Existe um mecanismo celular automático de uma incrível capacidade de corrigir aquilo que não podemos fazer por nossa vontade.
A genética é o que herdamos dos nossos pais. É como um quebra-cabeça primitivo, sem figura ou desenho que precisa ser montado durante os nove meses de gestação. A epigenética é a imagem que vamos formar durante a nossa existência. As cores que colocamos nesse quebra-cabeça, os detalhes e todos os aspectos fazem parte do processo de crescimento, amadurecimento e enriquecimento de cada ser humano. De um lado podemos deixar um quebra-cabeça muito rudimentar (com pouco a acrescentar a vida) e por outro podemos tornar ele de uma paisagem de beleza indescritível. A epigenética é a experiência de vida que registramos nos nossos cromossomos e que passamos para os nossos filhos. Em resumo: epigenética é o processo de melhora ou piora através da nossa vivência, processo educativo e de culturização. É onde e como registramos todas as mutações benéficas ou prejudiciais das experiências vividas.
A mutação de um arco-íris depende de cada um. Deixo vocês pensando como e o que querem fazer de suas vidas. Pensem no que pode ser acrescentado ou melhorado na sua vida, para que ela seja cada vez mais intensa e vivaz e não de um cinza desbotado.