Muitos pacientes entram no consultório e antes mesmo de sentarem, perguntam se não podem fazer um exame de sangue para descobrir se tem algum tumor ou como podem fazer para descobrir rapidamente com apenas um exame de sangue se há uma chance de já estarem com alguma doença neoplásica.
É difícil introduzir nas pessoas, que não existe “EXAME DE SANGUE MÁGICO”. Não existe e provavelmente nunca existirá um exame de sangue pelo qual possamos fazer o diagnóstico de um câncer ou de todos. Por outro lado, existem sim proteínas que são encontradas no sangue que podem auxiliar no acompanhamento de doenças já diagnosticadas.
A GRANDE CULPA é dos médicos. Nós criamos um folclore em volta dos mafiosos exames de sangue que podem ajudar no processo de diagnóstico de tumores e outras doenças. Estes exames são conhecidos popularmente como “Marcadores Tumorais”. E isso é porque, na medida em que nos encontramos diante de um caso difícil de resolver ou entender, acabamos muitas vezes desviando nossa atenção para marcadores tumorais no sangue que podem nos ajudar a afunilar as alternativas de diagnóstico. Não é o paciente que deve insistir nesta solicitação, pois muitas vezes os exames podem estar alterados por causas benignas, o que pode causar um grande problema para a tranquilidade do paciente. O médico por outro lado pode encontrar enormes dificuldades para explicar os resultados, se não partiu dele a intenção de realizar o exame do marcador tumoral.
Vamos a um exemplo:
Pergunta: Por que um homem com 35 anos não precisa fazer um exame de PSA (Prostatic Specific Antigen) para o rastreamento de um câncer de próstata?
Resposta: Pois a chance deste homem, nesta idade ter um câncer de próstata é menor que 1%. Os homens com mais de 55 anos e com sintomas urinários, como urinar muitas vezes durante a noite e madrugada, demora para iniciar a micção ou outros sintomas relacionados a urina, devem sim: consultar com um urologista, fazer um toque retal e somente depois disso coletar o exame de sangue de PSA (devo lembrar que a coleta do exame deve ser sempre feita uns 14 dias após a toque retal, pois a massagem da próstata durante o toque pode aumentar temporariamente os níveis de PSA) Agora se o paciente com menos de 55 anos está com sintomas urinários, devo recomendar que vá procurar um urologista rapidamente e NÃO ficar solicitando ao outro especialista a realização deste exame, pois isso só vai complicar todo o raciocínio.
Como regra básica, devo como oncologista, afirmar categoricamente que:
1.- NUNCA deve se solicitar exames de marcadores tumorais para diagnóstico de tumores, em pessoas que não tem nenhuma suspeita médica para isto.
2.- Somente o médico tem condições de refletir e considerar a necessidade destes exames de marcadores tumorais. O paciente não deve, em hipótese alguma e, apenas baseado no seu instinto de leigo, solicitar estes exames. Nem mesmo para curiosidade, pois se estiverem alterados, o pânico irá se instalar e dificilmente poderá resolver com tranquilidade as dúvidas vindouras.
3.- Ao consultar um médico, não insista em que ele elabore um pedido de marcadores tumorais não relacionados à especialidade dele. Por exemplo: coletar marcadores tumorais de doenças da mama por um proctologista não faz nenhum sentido. Vá ao ginecologista ou mastologista ou até no cirurgião oncológico ou oncologista clínico para esclarecer melhor a necessidade de realizar este exame ou não.
Os marcadores tumorais são aliados dos oncologistas, principalmente para conduzir os tratamentos ou avaliar as respostas aos mesmos. NUNCA devem ser feitos em pacientes sem nenhuma suspeita, pois como mencionei previamente, muitas doenças não cancerígenas podem elevar os valores destes, sem o paciente ter câncer. Esta situação irá desencadear muita ansiedade na pessoa e criar um medo que irá demorar em ser resolvido.
Algumas doenças benignas que alteram marcadores tumorais são: endometriose, cálculos biliares, pancreatite, prostatite, gastrites, colecistites e uma centena de doenças parecidas. Desta maneira podemos ter doenças benignas transitórias com alterações de alguns exames sem que isso signifique que a pessoa está com algum câncer.
Não irei me deter em exemplos de marcadores, pois muitas vezes a curiosidade dos pacientes é maior do que a coragem de enfrentar resultados posteriormente. O importante é que se saiba que eles têm valor apenas em pessoas com diagnóstico estabelecido de tumores malignos. Tanto é importante esclarecer isso, que até o simples hemograma pode ser um marcador tumoral, assim como outros simples exames de rotina diária ou dos check-ups.
O número de marcadores cresceu significativamente e sua classificação ficou mais abrangente, sendo que alguns destes não podem ser verificados no sangue, mas no tecido tumoral, como o HER-2neu, KRAS, entre outros.
As siglas mais usadas para estes marcadores são: CA-125, CEA, CA-15-3, AFP, β-HcG, beta-2 microglobulina, VSG, DHL, Calcitonina, Anticorpos Anti-Hu, etc, etc, etc... A utilidade destes é como as peças de um quebra-cabeça: sozinhas não valem nada, mas junto com outras peças podem formar uma imagem ou neste caso um diagnóstico.