O linfedema é uma complicação que pode decorrer de tratamentos oncológicos, experimentado mais frequentemente por mulheres do que homens. As cirurgias para remoção de câncer de mama, com a retirada concomitante de linfonodos da axila ou a aplicação de radioterapia em locas de articulação dos membros, são causas potenciais deste problema. O edema duro, de braços ou pernas afetados, é a principal manifestação. Trata-se de um sintoma que dificilmente será revertido de forma plena e que causa enorme limitação aos pacientes, gerando perda de empregos, aposentadorias precoces e incapacitação funcional. Além de um enorme sofrimento físico e psicológico, o linfedema funciona em muitos casos como uma “cicatriz” que lembra os problemas vividos e traz a sensação de que os mesmos poderão voltar.
Aqui não abordarei o linfedema causado por problemas vinculados a obesidade ou doenças infecciosas e parasitárias, pois o tratamento é diferente.
Como ocorre?
O nosso corpo esta constantemente sendo alimentado pelos líquidos transportados pelas artérias. As veias recolhem uma grande parte do sangue, levando-o de volta aos pulmões para reoxigenar e depois redistribuir pelo corpo, num fluxo constante, incansável e incessante. Porém, uma boa parte de todo o sangue é drenado e reconduzido pelo sistema linfático até o coração de novo e não pelas veias (este sangue dentro dos linfáticos se modifica para o nome de linfa). No momento em que os linfonodos são removidos, o fluxo normal da linfa é interrompido, causando este edema, que aos poucos vai adquirindo o aspecto endurecido (a linfa é o líquido que é retido como edema no membro) Um dos grandes problemas desta complicação é que, além do membro ficar maior em termos de medidas, ele pode se tornar doloroso, pesado e causar problemas de movimentação, locomoção e até dificuldades no próprio vestir (as roupas não servem ou fica difícil vestir uma manga ou uma calça)
O linfedema das pacientes com câncer de mama que foram submetidas a mastectomia ou cirurgias conservadoras, com concomitante retirada de linfonodos da axila, constitui o exemplo mais corriqueiro no dia a dia dos mastologistas, oncologistas e fisioterapeutas. A frustração é enorme, pois na grande maioria das vezes, as medidas adotadas e disponíveis atingem resultados muito limitados e paliativos.
O que tem sido feito para evitar ou tratar este problema?
Para os casos de câncer de mama em especial, está sendo estudada a possibilidade de realizar procedimentos menos extensos na axila, como a pesquisa do “linfonodo sentinela”, reduzindo o número de linfonodos retirados para 3 ou 4 e, desta maneira, preservando a capacidade de drenagem que a axila desempenha no processo de escoamento da linfa do braço. A técnica é muito nova e ainda em fase de experimentação, pois na medida em que menos linfonodos são removidos, os riscos com o futuro do tratamento do tumor da mama ainda não estão bem conhecidos. Sempre que possível, discuta com seu médico as opções e avalie com ele quais os riscos de se submeter a este procedimento mais novo. Em casos onde os linfonodos da axila são clinicamente evidenciáveis, não é possível considerar a técnica de “linfonodo sentinela”.
Além deste procedimento que visa evitar o aparecimento do linfedema, estão sendo conduzidas pesquisas fora do Brasil no sentido de realizar transplante de linfonodos do próprio paciente de áreas menos sensíveis para a região afetada como a axila. Alguns casos de sucesso já foram relatados, com a melhora do linfedema e, na medida em que os linfonodos pertencem ao próprio paciente, o risco de “rejeição” não existe. Infelizmente é ainda uma técnica muito inovadora e restrita ao âmbito da pesquisa médica, porém muito promissora para um futuro próximo.
Como reduzir o impacto na qualidade de vida e melhorar a convivência com o linfedema:
1- Evite ferimentos e lesões dos membros com linfedema. Cortes, arranhões, mordidas e queimaduras podem causar infecções, gerando ou piorando um linfedema.
2- Dê preferência ao depilador elétrico, principalmente para a axila.
3- Use luvas quando estiver fazendo jardinagem, cozinhando ou lavando.
4- Use dedal ao costurar.
5- Eleve o membro afetado, sempre que possível, acima do nível do coração (a gravidade vai ajudar, principalmente quando estiver descansando)
6- Evite atividades pesadas com este membro, para impedir o aparecimento do linfedema ou para não haver piora do mesmo.
7- Exercícios leves são recomendados. Evite as atividades vigorosas até a recuperação completa da cirurgia ou radioterapia ou até que o seu médico libere.
8- Evite calor (manter o membro o mais frio possível irá reduzir o risco de linfedema) Evite saunas, “spas”, insolações e banhos quentes (algo um pouco difícil no nosso atual inverno)
9- Evite roupas apertadas que possam comprimir os membros. Isto dificulta o adequado retorno venoso, retendo mais sangue na periferia do membro afetado e acumulando mais linfa.
10- Mantenha um bom cuidado de sua pele. Faça uma revisão da pele todos os dias ao acordar e durante o banho. Não permita que sua pele se desidrate ou suas unhas infectem. Procure um dermatologista!
11- Ao fazer os cuidados de unhas, tome cuidado em não causar lesões difíceis de tratar e prefira usar seu próprio material. Com relação aos pés, não ande descalço.
12- Tenha uma alimentação correta e evite excessos de gordura ou sal, o que pode levar a um acúmulo de líquidos no corpo e consequentemente a piora do linfedema.