Quem veio primeiro: o ovo ou a galinha? Diante da tão histórica incerteza da humanidade, é possível equiparar esta pergunta à da depressão e o câncer. Qual é a sequencia dos eventos? A depressão é uma consequência do câncer? Ou a depressão pode causar câncer?
Inicio já com o veredito de que NÃO existe evidência científica alguma de que a depressão possa causar qualquer tipo de câncer. Muitos dirão: “Meu parente tal, que era muito triste e depressivo, teve câncer depois que caiu em profunda depressão” De fato esta afirmação é mais produto de uma dedução errada de quem observa apenas por um ângulo e não tem a percepção de todos os aspectos envolvidos na gênese dos tumores. Reafirmo e ratifico: NÃO EXISTE QUALQUER RELAÇÃO CAUSAL ENTRE DEPRESSÃO E CÂNCER.
A situação inversa é sim muito verossímil. Virtualmente 100% dos pacientes com diagnóstico de câncer irão desenvolver algum nível de quadro depressivo, ora antes do diagnóstico, durante ou após o término dos tratamentos. A intensidade, duração e gravidade irão depender de uma infinidade de fatores. Pacientes com uma estrutura emocional sólida terão episódios mais efêmeros e leves de quadros depressivos. Ao contrário de pessoas com estruturas psicológicas frágeis, onde a profundidade do quadro depressivo irá depender das necessidades individuais, do tempo de adaptação à realidade vivenciada e, entre outros fatores, o auxílio que a família presta ao paciente, assim como também a rapidez com que o médico fará o diagnóstico e iniciará o tratamento antidepressivo.
De um modo geral, os pacientes que sofrem quadros depressivos mais intensos e duradouros, terão evoluções mais comprometedoras de suas doenças, assim como provavelmente mais suscetibilidade aos efeitos secundários dos tratamentos oncológicos. Pacientes com contextos familiares, culturais e sociais de estruturas sólidas resolverão seus desafios de forma mais eficiente e rápida. Os pacientes com perfil pessimista sempre padecerão mais, assim como estarão mais vulneráveis para os enfrentamentos. Vide exemplos de pacientes que, sabidamente não tem estrutura emocional para serem comunicados de seus diagnósticos (por outro lado, surge aqui um questionamento: como podemos negar esta informação ou diagnóstico ao nosso paciente? Do ponto de vista do Código de Ética Médica, temos a obrigação moral e legal de comunicar sempre os diagnósticos)
No entanto, nosso assunto aqui não é questionar se devemos ou não falar, e quanto devemos falar ao doente. O mundo está cheio de informações dispersas, muitas delas às vezes para piorar a cabeça das pessoas, mesmo que despropositadamente. Por isso, cada pessoa tem que ser vista de forma individual e não generalizar com exemplos alheios.
Finalmente, hoje sabemos que depressão não causa câncer, mas câncer quase sempre gera depressão nos pacientes. Quer seja pela própria doença, pelos tratamentos que são feitos, pelos temores muitas vezes infundados ou mal resolvidos. E que é de extrema importância o apoio familiar, assim como o início precoce de tratamentos antidepressivos para estes pacientes, uma vez que eles ajudam a mudar o prognóstico da doença, tolerância aos tratamentos e finalmente não causam dependência (e isto é um FATO!)