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17-08-2013 - francisco um estilo de vida
17-08-2013 - francisco um estilo de vida

 


O começo: FRANCISCO

Francisco, um nome comum como qualquer outro, viveu a maior parte de sua vida sem se preocupar com a sua própria saúde, sempre dando atenção aos outros. Um médico que por mais da metade de sua vida perambulou a maior parte do país, fazendo o que amava fazer: aliviar dores e confortar pacientes e familiares em todos os momentos. O que gostava era de orientar, mesmo que não fosse seu filho, estava sempre ensinando, educando e evitando que os jovens caíssem em desgraça, desvios de conduta e tentação. Foi moldado nas escolas médicas das antigas, sempre priorizando o atendimento de quem mais precisava e defendendo seus princípios éticos como um feroz paladino. Nunca fraquejou e nem se imaginava cedendo às pressões e sedução do poder.

Casou-se com uma enfermeira passados os trinta anos, com a qual teve seis filhos, a maioria consagrada à mesma profissão que o progenitor. Educação rígida, oriunda dos avôs de origem espanhola, toda a prole recebeu os mesmos ensinamentos. A maioria dos rebentos saiu a procura de fortuna e futuro ainda cedo na vida. Enquanto isso, Francisco permanecia travando epopéicas batalhas contra as doenças, contra as injustiças, velando pelos seus pacientes e sempre deixando a sua saúde em segundo lugar.

Passaram os quarenta, chegaram os cinquenta e a vida dura de Francisco nada mudava. Os achaques da idade começavam a gerar suas sequelas e limitações. O sono não era mais o mesmo, acordando seguidamente durante a noite, em função de um prostatismo que alvorecia. Como um relógio despertador, Francisco acordava de madrugada, às vezes no frio, às vezes suando, mas quase sempre de pés descalços, como a maioria dos homens faz. Ia até o sanitário e começava a sua cruzada para liberar a micção. Finalmente o prostatismo foi perdendo importância, conforme outros problemas apareciam.

O meio: ESTILO DE VIDA

Francisco bebia com moderação e gostava de festas como todo ser humano, mas as obrigações e problemas o tiraram precocemente da vida noturna. Mas sempre que havia uma oportunidade tomava uma cerveja com os amigos. Como costuma se dizer: “bebia socialmente”. Ele não tinha o hábito de fumar, embora às vezes fosse visto arquejando baforadas engraçadas, a modo de quem pela primeira vez está abocanhando o intragável gás mortífero do tabaco em brasas. Enfim vieram os sessenta e o luxo da aposentadoria chegara. Infelizmente, para um médico se aposentar, precisa de outras fontes de renda, uma vez que a maioria não tem nenhum plano de carreira. Sendo assim, não havia maneira de parar, pois ainda precisava pagar contas e alimentar a família.

Próximo dos setenta anos, a má alimentação, as comidas rápidas em balcões, os “fast food”, a falta de atividade física, o aumento progressivo de peso e o tão mal falado “metabolismo lento” da velhice, começaram a cobrar suas dívidas. O corpo não mais aguentava as longas jornadas. O peso ultrapassando a marca dos 100 kg por várias décadas trouxe consigo um aumento de acúmulo de gordura no fígado e com isso uma silenciosa doença chamada “esteatose hepática”. A capacidade de trabalho e o ímpeto estavam dizimados a fogos fátuos, tênue lembrança da figura dos primeiros cinquenta anos.

No penúltimo natal da vida dele, conseguiu reunir toda a família, depois de quase vinte anos separados. Ao comentar sobre umas dores e desconforto abdominal, os filhos sugeriram que fizesse uma tomografia de abdômen. Qual fora a surpresa? Estava com hepatocarcinoma multicêntrico (vários tumores hepáticos ao mesmo tempo) Para Francisco e sua família aquele momento parecia um pesadelo. O natal não teria mais o mesmo significado. A doença fora causada pela obesidade, uso frequente de medicamentos para dor, bebida alcoólica, mesmo que socialmente, entre vários outros motivos.

O fim: UMA SENTENÇA

Depois da confirmação do diagnóstico, realizou diversos tratamentos, passando por quimioembolizações, avaliações para transplante e quimioterapia por via oral com uma droga chamada Sorafenib. A doença já fora diagnosticada em fase avançada e todos os tratamentos eram de cunho paliativo. O mais provável era que Francisco tivesse uma sobrevida de 9 a 12 meses, mas apesar de todas as previsões viveu quase 3 anos, entre altos e baixos. Durante esse período, ele reavaliou a sua vida e tentou recuperar o tempo perdido. Viveu mais intensamente, conheceu seus netos e visitou todos os seus filhos. Uma e outra vez indagava os filhos sobre o seu prognóstico, muito embora, ele sendo médico, soubesse como e onde procurar. Chorava sozinho na solidão pelos erros cometidos no passado, pelos descuidos com a própria saúde. Os filhos, impotentes de ajudar, apenas observavam e ajudavam no que podiam.

Nos últimos meses de vida, Francisco ficou em casa, ao lado da esposa e todos seus filhos. Suas últimas horas ele recebeu o carinho da família, longe dos frios corredores e lençóis dos hospitais. O amor que emanava daquele quarto da casa parecia preencher o bairro todo. Francisco estava feliz, sem dores, sorrindo, embora respirando com um pouco de dificuldade. Dava as últimas instruções a todos e, na última madrugada, pediu um chá para bebericar. Finalmente Francisco passara a ser o objeto do trabalho da vida inteira dele. Por volta das 5 horas da manhã daquele primeiro domingo de março, Francisco partiu tranquilo e sereno, ao lado da família que amou e que tanto o amava.

Os ensinamentos

Esta é uma história real e se por ventura se sentirem identificados com alguma descrição ou momento, é mera coincidência e peço desculpas. Francisco dedicou sua vida toda aos seus pacientes, em detrimento de sua própria saúde. Ele sabia que deveria ter feito tantas coisas diferentes, mas a constatação dessa certeza só veio após o diagnóstico do câncer.

Nunca, mas NUNCA mesmo, é tarde para mudar. A morte é uma das poucas verdades absolutas da nossa existência. Sempre podemos recuperar nosso tempo perdido e mudar nossos hábitos, para melhor. Não ficamos para sempre e não somos imbatíveis. Uma hora será a nossa hora, por isso, reveja seus conceitos, seus hábitos alimentares, seus vícios, suas relações familiares, seus fatores de risco e tente mudar antes de adoecer e não haver mais volta.

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