Hoje poderia começar com uma pergunta: qual é a relação entre obesidade e câncer?
Vivemos numa época de enormes e rápidas mudanças. O processo de informação é quase que instantâneo de um lado do mundo para o outro. A capacidade de influenciar está ao alcance de uma mão, de apenas algumas teclas. Ao mesmo tempo em que ganhamos enormes vantagens com o avanço da tecnologia, fomos sacrificados aos efeitos de suas virtudes. A facilitação das funções mais simples de hoje, como controlar a televisão desde o conforto de um sofá, mudar a música de um CD movendo apenas alguns dedos, ou a automação de lares, com o abrir e fechar de cortinas e o ligar de chuveiros e banheiras, tornou a vida do ser humano absurdamente mais fácil. Hoje compramos nossas refeições em cadeias de fast-food sem mesmo sabermos do que são feitas, mas apenas porque é tão mais fácil e realmente muito palatável aos nossos sentidos. Ou solicitamos as mesmas através dos serviços da profissão mais nova do século XX: o motoboy com sua famosa tele-entrega. E tantas outras vantagens que ainda estão por vir e que poderão modificar os números das nossas balanças. A tecnologia criou uma nova epidemia nos estados unidos de norte América e o Brasil não está longe desta realidade. A obesidade é hoje considerada uma doença e está sendo tratada como um grave problema de saúde pública. Existem inclusive forças-tarefas (task force) sendo implantadas para reverter a epidemia da obesidade. E SIM! a abordagem inicial feita sobre a tecnologia é porque acredito que uma das consequências dos avanços tecnológicos foi tornar o ser humano mais dependente e preguiçoso, argumentos propícios para a instalação do aumento de peso, sobrepeso e finalmente a obesidade mórbida, assim como a poderosa influência da propaganda no que se refere a distorção dos hábitos alimentares.
Numa das minhas conversas com um paciente, eu ouvi o seguinte comentário: “Mas Doutor, o senhor também está fora de forma e não somente eu”... Aí eu fiz uma cara de quem não entendeu o recado e retomei minha orientação incisiva sobre o excesso de peso e controle da alimentação. Realmente preciso dizer que o sobrepeso não é uma preocupação exclusiva dos meus pacientes. Também me sinto incluído neste grupo e travo uma luta diária para evitar os excessos, pois não disponho das vantagens de algumas pessoas em processar rapidamente as calorias, apesar de manter atividade física regular.
Bom, mas a preocupação não está em nada ligada aos aspectos estéticos e sim a relação do sobrepeso e obesidade com o surgimento de um enorme número de doenças, entre elas o câncer.
Dentre as doenças que tem sua incidência aumentada com a obesidade, estão: o diabetes mellitus tipo 2 (ou diabetes melito que é a forma portuguesa de escrever e está correta); doenças cardiovasculares, como angina, infarto, hipertensão arterial, dislipidemias e tromboses; doenças de pele como a acantose nigricans (que é o escurecimento da pele, principalmente no pescoço e dobras); doenças renais crônicas; doenças psiquiátricas como depressão; doenças pulmonares como asma e apneia do sono; doenças do fígado como a esteatose hepática que pode levar a cirrose; problemas reprodutivos como infertilidade e gravidez de risco e finalmente cânceres de vários tipos e em vários órgãos.
A minha avó costumava dizer: “se está gordinho é porque está com saúde” Tolo engano. Por outro lado é bem verdade que o regime alimentar daqueles tempos era muito mais saudável do que dispomos hoje em dia. Hoje temos alimentos processados, na forma de comida pronta ou quase pronta, para permitir: preparo rápido e fácil, sem maiores complicações, durabilidade estendida, gosto e paladar melhores e com todas estas características os consumidores se tornam fãs e incondicionais compradores por anos a fio. Aí quando percebem, já estão com sobrepeso e no caminho da obesidade. Muitos alimentos e bebidas contem nos seus ingredientes, substâncias que conduzem a formação de um consumidor dependente. Sempre digo que nenhum excesso é prudente. Pode se comer um pouco de gordura aqui e um pouco de fritura acolá, mas não permitir que estes constem na sua dieta diária e sim que sejam visitantes esporádicos dos comensais da sua mesa.
Mas o que me trouxe aqui são duas coisas: O CÂNCER e sua relação com a Obesidade e com a Síndrome Metabólica. Importante deixar claro que Obesidade não é sinônimo de Síndrome Metabólica, até porque muitos magrinhos também são portadores desta síndrome.
A Obesidade associada à Síndrome Metabólica aumenta expressivamente o risco de ter câncer de mama, fígado, esôfago, estômago, pâncreas, cólon e reto, algumas formas de leucemias, entre outras neoplasias. Como isso acontece? Ainda não sabemos como, mas acreditamos que exista uma relação entre insulina e seus receptores, acúmulo de gordura abdominal, entre outros fatores. A Síndrome Metabólica explica muitos dos tumores em pessoas que não tem nenhum outro fator de risco.
Mas nem todo “gordinho” está em risco, pois sabemos que nem todos os pacientes obesos preenchem os critérios de diagnóstico da Síndrome Metabólica.
Quer dizer que ainda posso ser gordinho e não estar em risco de desenvolver doenças hepáticas, cardíacas e nem mesmo câncer? A resposta para isso é SIM! Pessoas com obesidade, que não tem Síndrome Metabólica, têm o mesmo risco que os magrinhos de desenvolverem estas doenças. Tanto é verdade que pessoas magras com diagnóstico de Síndrome Metabólica têm o mesmo risco de desenvolver os problemas já relacionados acima. Em outras palavras: estar obeso é um fator de risco adicional para desenvolver a doença, porém os magros não estão livres e isso depende dos critérios usados para o diagnóstico.
Então como se faz o diagnóstico da Síndrome Metabólica? É preciso ter pelo menos três dos seguintes critérios:
1- Glicose no jejum ≥ 100mg% ou em tratamento
2- Colesterol HDL em níveis < 40mg% para homens e < 50mg% para mulheres ou em tratamento
3- Cintura abdominal no homem ≥ 102 cm e na mulher ≥ 88 cm
4- Pressão arterial ≥ 130 x 85 mmHg ou hipertensão em tratamento.
5- Triglicerídeos ≥ 150 mg% ou em tratamento.
O importante de entendermos esta síndrome e a obesidade, é que muitos pacientes que são diagnosticados com câncer têm na Síndrome Metabólica uma das causas para isso. Ou seja, nestes casos não é preciso ter fumado ou bebido ou terem os habituais fatores associados com os tumores. Simplesmente parece que termos maus hábitos nutricionais, sermos sedentários e não cuidarmos nosso metabolismo pode ser o estopim para incentivar os nossos órgãos a criarem os tão indesejados cânceres.
Ficam então as dicas quentes para a prevenção destes problemas: Procure um nutricionista, inicie atividade física numa academia ou faça caminhadas e não deixe de consultar com seu clínico, endocrinologista e/ ou cardiologista para fazer seus exames!