Já não é de agora que me vejo na necessidade de falar sobre a perigosa relação entre álcool e câncer. O jornalista Vinicius, deste mesmo jornal, solicitou gentilmente que expusesse parte do conhecimento científico atual para esclarecer o perigo do álcool, não somente em relação aos acidentes de trânsito, mas aos riscos do consumo crônico com o câncer.

Pois bem, existem claras e sólidas evidências de que o consumo diário do álcool acima dos níveis considerados moderados pode causar inúmeras patologias, entre elas alguns tumores. O consumo considerado moderado é de uma dose diária de bebida alcoólica para as mulheres e de duas para os homens. Acima desta medida, a pessoa está exagerando e isto se constitui numa infração contra o corpo. Álcool pode gerar dependência e certamente criar diversas patologias ao usuário. O grande problema é que se trata de uma droga lícita, o que impede castigos mais enérgicos contra os que infringem leis decorrentes do consumo excessivo.

O consumo de álcool acima do conceito considerado “moderado” é fator de risco para os seguintes cânceres: língua, boca, garganta, laringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, cólon e reto, mama, principalmente. Dentre todos estes órgãos, os tumores da cabeça e pescoço são os de maior risco, elevando as chances de 2 a 3 vezes para aqueles que mantem consumo moderado a pesado. Aparentemente o tempo mínimo de consumo é de 10 anos.

Importante deixar ressaltado, que o conceito de etilismo não é apenas para aqueles que ingerem pequenas a moderadas quantias de álcool todos os dias, mas também aqueles que o fazem esporadicamente e de forma desproporcional.

É irresponsável fazer este consumo de forma contínua, em grandes proporções e com propósitos recreativos permanentes. O álcool deve ser ingerido de forma a aproveitar um encontro com amigos, festejar datas especiais e não servir de desculpa para fugir dos problemas e das dificuldades.

Sobre o vinho
Sempre sou questionado sobre o vinho e seus bens ou malefícios. Reafirmo aqui, que sou a favor do consumo em doses pequenas desta maravilhosa bebida. Tem seus benefícios, o que é historicamente confirmado pelos povos do mediterrâneo. Não sou nenhuma referência para nenhum outro tipo de bebida alcoólica. No entanto existem cada vez mais fortes de que o consumo de cerveja, principalmente as artesanais, pode trazer sim alguns benefícios terapêuticos. Sempre e quando este consumo for feito dentro da mesura e moderação.

Beba com moderação, não dirija após consumir bebidas alcoólicas, não use a bebida como estimulante para perder o medo ou ganhar coragem e faça o consumo em companhia dos que você ama. NUNCA BEBA SOZINHO!


CORREÇÕES SOBRE DUAS COLUNAS ANTERIORES:
Na coluna da semana passada falei que o Trastuzumab foi criado primeiro e depois o Rituximab. Meu irmão Christian, também oncologista em Porto Alegre, fez a lembrança de que foi ao contrário, com o Rituximab primeiro e depois o Trastuzumab. Obrigado irmão!

Em um das primeiras colunas comentei sobre o poder antitumoral da substância chamada APIGENINA. De fato existem estudos mostrando isso, mas no último mês de novembro de 2013 foi publicado um ensaio científico sobre a Apigenina em cobaias e constatado que ao invés de reduzir as neoplasias, a Apigenina aumentou alguns cânceres nestes animais. Estes estudos, assim como os que mostram seu valor positivo, ainda são matéria de muita discussão e pesquisa. Por este motivo sugiro sempre cuidado para estas novas substâncias das quais se toma conhecimento. Muita atenção sobre drogas milagrosas que são vendidas aos mais descuidados e as vezes desesperados por milagres. É uma opinião pessoal, que deve ser considerada sempre antes de tentar remédios vendidos com um perfil “fantástico”