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29-03-2014 - quando o paciente não quer se tratar?
29-03-2014 - quando o paciente não quer se tratar?

                    

 

 

Vez por outra me vejo em encruzilhadas das quais desejaria ser poupado. Momentos que poderiam fazer parte de filmes e não da realidade, a qual nos nocauteia sem nos tocar, mostrando como ela pode ser dura e crua.

Sentado a frente do meu carro, ao meio dia, durante um daqueles dias quentes deste último verão, vinha eu ouvindo uma saudosa música da minha adolescência: “Luz de dia” dos Enanitos Verdes (recomendo!) Um enciclopédico turbilhão de emoções e frustrações ofuscava meu raciocínio e decisões (Acredito que é muitas vezes assim que acontecem os acidentes, quando nos distraímos) Por isso decidi levar as minhas angustias para onde era seguro e para quem sempre me ouve.

Não é de agora que os oncologistas se deparam com os paradoxos do câncer. Mas estas telas da vida pouco tinham se avizinhado durante minha experiência de médico. Meu pai sempre me mostrou o lado científico e humano da medicina, mas nunca me preparou para o “desgarrar” das almas em impiedoso sofrimento. Não sou daqueles que se sentem derrotados, nem mesmo nos derradeiros minutos dos combates. Prefiro pensar que a tênue e fátua chama da vida deva ser mantida flamejante até o momento certo, até o último momento digno. Não se trata de desafios ou de metas, mas da necessidade quase insana de obedecer aos ensinamentos hipocráticos e galênicos. Está na natureza dos médicos.

Mas aqui estava eu, pensando entre as quatro paredes da minha abobada craniana, com a música dos Enanitos Verdes de fundo, sobre como e por que nem todas as existências humanas funcionam pelas mesmas engrenagens. Descobri algumas coisas, que nem mesmo eu considerava estarem ali, dentro do meu crânio.

O aspecto mais importante e crucial dentro de toda esta interminável sessão de auto-psiocoterapia gratuita foi contundente: mais do que meu desejo de tentar ajudar alguém, devemos respeitar os desejos dos pacientes.

Durante meses vinha eu insistindo e persistindo na minha vontade de induzir ao paciente por se decidir ao tratamento. Nada do que eu dissesse tinha qualquer efeito sobre as decisões do mesmo. Meus argumentos apenas pareciam ter algum efeito anestésico, mas nada que pudesse induzir sequer uma discreta mudança do rumo ao favor do tratamento oncológico.

Hoje, tenho um pouco de vergonha pela minha persistência germânica e orgulho do meu paciente que soube conscientemente decidir pelo melhor para ele, sem deixar ser influenciado por qualquer argumento científico ou pela minha arrogante insistência médica. Se ele se curou? Provavelmente não, mas o que é importante num momento desses? O quanto somos livres para decidirmos pelo que queremos ser e onde queremos chegar. Nada mais conta, nem mesmo o mais precioso dos tesouros. Pois um dos maiores bens nesta vida finita é a liberdade de escolha. Costumo pensar hoje que toda decisão consciente tomada pelos pacientes é sempre a melhor decisão, mesmo sendo diametralmente opostas ao que nós desejamos. Ninguém melhor do que o próprio para saber o que mais lhe convém.

E assim, como a letra da música no final do dia, mesmo com o anoitecer se esgueirando, a lembrança sólida do paciente me trouxe a “luz do dia”... Façam de suas escolhas, as vontades indefectíveis de suas vidas, sem deixar a sociedade ser quem as faça. Sejam vocês mesmos e somente ajudemos a caminhar, mas não conduzamos os outros para onde nós gostaríamos de ir. Seja cada um, dono de seu destino.

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