Não sei o leitor, mas eu e a minha geração crescemos sob a tutela e educação de nossas mães. Meu pai era um “visitante” discreto de final de dia e aos finais de semana. Os casamentos eram dessa maneira: homens trabalhavam fora e as mães cuidavam os filhos. A maior parte das minhas virtudes foi herdada da influência da minha mãe. Meu pai transmitiu a teimosia e os ensinamentos da profissão. Esta reflexão, pelo menos no caso da minha geração, ensina que as mulheres desempenharam papel preponderante na nossa formação.
No meu dia a dia vejo todos os tipos de pacientes: desde os pequenos até os mais velhos, mulheres e homens, de todas as cores e credos. Mas uma coisa parece bastante óbvia nesta minha prática. O que é possível vislumbrar é a coragem predominante vista no sexo frágil. Mulheres são definitivamente mais fortes, poderosas e consistentes do que homens. Isto não é nenhum tipo de crítica aos “machos alfa”, mas um elogio ao dito sexo frágil. Os exemplos são inúmeros, mas alguns se destacam mais do que outros.
Já faz algum tempo que atendo uma jovem mulher que teve que tratar um câncer de mama. Ela levou um choque no diagnóstico inicial, chorou, perdeu os cabelos (literalmente) e depois se reergueu como a ave fénix (Muitas mulheres irão se identificar com estes momentos) Após todo o sofrimento decorrente dos tratamentos e preços a pagar pelas consequências dos mesmos, ela saiu triunfante. O único momento em que deixou a “peteca cair” foi ao receber o diagnóstico. Foi assim que ela me descreveu esta crítica fase.
Independente do que viria na sua vida, ela optou por se aposentar do trabalho de agente penitenciária. Admiro esta função que suga tanto dos seres humanos. Após o fim dos tratamentos, ela decidiu aproveitar a vida da qual nunca soube tirar nenhum proveito, principalmente pela desgastante atividade profissional. Ela e a filha começaram a percorrer o mundo, primeiro com os dedos e depois com pernas e passaportes. Surgiu o sentimento claro de que havia deixado muito tempo de perceber como a vida poderia ser mais do que simplesmente a massacrante rotina de bater cartão-ponto. A alegria de desbravar o mundo fez com que ela descobrisse um ser vivo dentro de si. Os planos da mesma para o futuro são intermináveis, mesmo que a doença algum dia volte. Pois ela é assim e sempre será: uma mulher de otimismo indelével.
Nunca quis fazer cirurgia plástica na mama retirada, alegando com todo orgulho que “ela não é ninguém menos sem teta” (bem como ela se refere à “extinta” que lhe trouxe um carimbo de mudanças) Cirurgia plástica é ao entender dela, para quem não sabe lidar com a situação. Ponto de vista muito avançado para os nossos tempos e sociedade (merece meu respeito) Toda vez que vai ao consultório é uma alegria que irradia em todos os ambientes e sempre conversamos sobre as próximas viagens e apenas uns dois ou três minutos dedicados aos resultados dos exames de controle. Ela faz religiosa e militarmente sempre todas as revisões, sem nunca falhar. Para ela isto é sagrado, assim como todas as recomendações que passamos. Mas o que mais dá prazer é ver alguém ter despertado para a vida, depois de ter descoberto um câncer. É um segundo nascimento!
As mulheres são mais ou menos todas assim: lutadoras, persistentes, corajosas, fortes, sensíveis. As mulheres que eu conheci sempre me deram lições de coragem. Quando cheguei a Cachoeira do Sul, conheci uma cidade com mulheres que são ainda mais unidas e fortes do que em outros lugares. Aqui, as mulheres são de uma fibra e exemplo que devemos imitar, nós os filhos, irmãos, maridos, amigos, médicos... Sem a força feminina, esta cidade teria outra sombra ao sol. Mulheres, obrigado por nos ensinarem a cultivar a coragem no ato de viver.