O título atual remete a uma coluna anteriormente escrita, onde compreendo e aceito que por trás de cada decisão há consequências para as quais devemos ser responsáveis e não inconsequentes. Mas e quando esta decisão afeta não só o responsável, mas a terceiros? Consciente ou inconscientemente, ao optarmos por uma alternativa, invariavelmente desencadeamos consequências nas vidas de outros seres humanos. Pode ter pouca importância para quem faz a opção, mas para outros os resultados podem ser benéficos ou catastróficos. Ao escolhermos o tratamento do paciente, o fazemos baseado em aspectos clínicos, em alternativas terapêuticas, opções disponíveis, assim como consensos científicos e, em última instância, em conjunto com o paciente. O atendimento à saúde atualmente nos impõe tantas limitações técnicas, assim como de logística, que mesmo sendo o nosso maior desejo o melhor pelo e para o paciente, nem sempre obtemos os mais perfeitos resultados.

                Fazer medicina não é simplesmente cumprir com horários e metas, mas também gerenciar os sentimentos e sofrimento de pacientes e familiares. Os médicos diuturnamente assumem papéis de assistente social, psicólogo, mediador, amigo e qualquer outra função para a qual sejam desafiados, diante das doenças. O perfil deve satisfazer as necessidades dos doentes, em especial e principalmente. Todo e qualquer outro objetivo contrário é meramente especulativo e misantropo.

                Concordo com a importância que o Dr. Alessandro Barilli dá a educação, caráter e formação pessoal em recente coluna que ele assina neste mesmo jornal. Tenho a mesma impressão e sentimento com relação ao que o amigo muito sabiamente escreve. Ele me transmite a ideia de que caráter é o molde e o ambiente externo é o que apara as arestas da personalidade. E por que considero isto importante? Porque a formação e personalidade de um médico, dentro e fora dos consultórios, é produto da educação que recebeu desde sua infância com a família, nos colégios e finalmente na vida acadêmica. A atividade de trabalhar só exibe as virtudes e defeitos dos quais somos detentores, com cada experiência gerando registros permanentes no nosso ser para o comportamento futuro. O fato é que toda situação experimentada será invariavelmente registrada no nosso “software genético”, num local do DNA que podemos chamar de “memória epigenética”. É gravado como se alimentássemos um programa de computador.

                Todas as experiências que registramos em vida, são gravadas neste nosso “software”. A epigenética é um fascinante novo mundo, que tem se transformado num dos maiores responsáveis por explicar inúmeras dúvidas do passado. Aspectos relativos à personalidade e psique, transferência de riscos familiares, tendências de doenças e uma das questões mais importantes: todos esses registros gravados no nosso epigenoma serão transferidos para os nossos descendentes, tanto em vida, quanto na fertilização do óvulo. Tudo que registramos de forma negativa ou contraproducente terá um impacto negativo na nossa epigenética, assim como as escolhas certas na vida geram bons registros, nos tornando melhores. Os vícios de comportamento, os defeitos e/ ou o desvio de caráter fazem parte da má memória epigenética. Importante: todos os registros, bons e ruins, serão transferidos impreterivelmente para os nossos filhos e descendentes. Então, nossas escolhas traçam o destino da nossa árvore genealógica futura. Por isso: ao tomar decisões, não pense somente em si, mas nas consequências que estas trazem e seja responsável pelos seus desfechos presentes e futuros. Esse é o verdadeiro legado que você deixa para o futuro: o efeito borboleta das nossas experiências, impregnado no nosso DNA para as gerações vindouras. (A epigenética explica as diferenças entre gêmeos idênticos: com DNA idêntico)