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07-06-2014 - imortalidade de henrietta lacks
07-06-2014 - imortalidade de henrietta lacks

 

                                                            

 

                Certamente 99,99% da população que irá ler este assunto nunca teve conhecimento de Henrietta Lacks. Mas não se preocupe, pois até pouco tempo atrás, eu mesmo sendo médico, desconhecia a existência deste nome. Mas é importante trazer um pouco da história desta mulher para sua leitura, pois devemos muito a ela. Talvez devamos dizer que devemos muito ao tumor de colo uterino desta mulher.

                Henrietta viveu o drama das mulheres americanas negras na década de 1950 e 1960. Digo drama, pois além de mulher e negra, ainda teve que lidar com um câncer de colo uterino, que acabou causando a sua morte. Mãe de família numerosa, trabalho sem futuro e renda familiar muito escassa, ao se deparar com o diagnóstico do câncer de colo uterino, procurou atendimento médico no hospital Johns Hopkins de Baltimore. A história da doença desta mulher demonstra os erros e abusos causados pela ciência médica da época, que hoje ecoam na população leiga. Foi tratada sem consentimento da mesma, produto da falta de condições para pagar seu tratamento, e que em síntese poderia resumir aquele sentimento popular que clama que humanos são cobaias em pesquisas. Infelizmente Henrietta foi de fato submetida a procedimentos e tratamentos sem o seu conhecimento e nem consentimento. O fato mais espetacular da história da vida dela é que as células tumorais do colo uterino foram sendo coletadas e usadas para os mais diversos fins da ciência. Estas células eram e ainda são cultivadas e encaminhadas por correio para todos os laboratórios do mundo. O tumor de colo uterino de Henrietta tinha uma característica única que permitia a subsistência e replicação das células de forma indefinida, nas condições ideais. As células HeLa (como são chamadas) possuem uma versão modificada da enzima Telomerase, que permite a eternidade e imortalidade das células. Curioso é que as células HeLa ainda estão vivas hoje, o que leva à seguinte pergunta estranha: se fosse possível reproduzir uma pessoa a partir da uma única célula, ao modo de clonagem como a ovelha Dolly, será que poderíamos trazer Henrietta de volta? E se for assim, não teríamos então entre nós a uma mulher imortal, mesmo que fosse apenas numa cultura celular? Para mim, esta é a prova mais clara de que a imortalidade de corpo é um direito do qual fomos privados e que talvez um dia possamos nos permitir.

                As células HeLa permitiram criar vacinas como a da poliomielite, medicamentos contra a AIDS, remédios para tumores de mama, intestino, pulmão e todos os outros, assim como antibióticos, etc. As células HeLa ainda são usadas em inúmeros laboratórios do mundo e fora dele, como na Estação Espacial Internacional. Ainda teremos muitas utilidades para estas células no presente e futuro, mas o que é importante repetir, é que Henrietta nunca soube que sua doença e células seriam usadas com este fim, pois nunca foi consultada. Os direitos de mulher, de negra e a ausência de ciência séria e ética na época, originaram esta possibilidade. Uma pergunta que nunca me sai da cabeça: se as células HeLa nunca tivessem sido coletadas, talvez e apenas talvez, nunca teríamos tido vacina para a poliomielite, alguns quimioterápicos, remédios contra a AIDS, e assim por diante...

                Esta é uma história para reverenciar, pois graças a HeLa, muitos de nós, mas MUITOS mesmo! Ainda estamos vivos e com saúde: uma mulher teve que morrer para muitos seres humanos poderem viver, o que parece até a essência de um filme holivudiano (ou hollywoodiano?). A pesquisa médica hoje em dia é absolutamente ética e reconhecemos que esse tipo de ocorrência não pode mais acontecer, pois inúmeros mecanismos de proteção ao paciente são acionados sempre que novos tratamentos ou investigações são feitas.

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