Fazer um breve resumo sobre o câncer de pulmão parece ser necessário, a fim de eviscerar as razões da minha aversão contra o fumo.
Em meados da década de 1950, finalmente o fumo (cigarro, charuto, tabaco em qualquer uma de suas formas) era vinculado como fator causal de diversos tumores, mas principalmente para os de pulmão, iniciativa sempre liderada por países do chamado 1º mundo. Paradoxalmente em anos prévios, o hábito de fumar era defendido por médicos e até dentistas. Curioso que ainda hoje nem todos estão convencidos de seus malefícios. Foi então que na Europa e Estados Unidos de Norteamérica uma enxurrada de estudos envolvendo a relação do tabagismo e o câncer de pulmão fora iniciado, assim como uma procura por tratamentos e soluções deste flagelo tumoral. A prevalência do câncer de pulmão foi aumentando gradativamente até o início dos anos 2000. Apenas por volta de 2005 a 2006 a incidência do câncer de pulmão em homens começou a diminuir, especificamente em países ricos. A incidência de câncer de pulmão nas mulheres somente começou a diminuir por volta do ano de 2012, novamente apenas nos países de primeiro mundo. A nossa realidade pode e deve ser diferente desta e provavelmente na direção contrária, resultado de inúmeros fatores educacionais e culturais.
A luta pela erradicação do vício continua até hoje, mas ela é uma guerra desigual, onde as grandes indústrias do tabaco são os “Golias” e os “David” são os prejudicados por este nocivo vício. Mas pela primeira vez em muitas décadas, podemos ter uma reviravolta pelo enfrentamento que vem sendo travado entre o governo do Uruguai e a Phillip Morris. O Uruguai é considerado o quarto país livre de fumaça no mundo, onde enérgicas medidas contra a venda e o consumo do cigarro foram implementadas e as megaindústrias do tabaco estão querendo derrubar a soberania e autonomia do governo uruguaio diante de tribunais internacionais. Palmas ao governo uruguaio que não é intimidado com a prepotência exercida pela Phillip Morris.
O cigarro está hoje vinculado a tumores que vão desde os lábios até o ânus, passando pelo esôfago e estômago, cabeça e pescoço, pulmão, mama, rins, intestino grosso, bexiga, pâncreas e não para por aí! Existem relatórios da OMS relacionando os componentes dos cigarros e afins com dezenas de tumores e alguns destes relatórios possuem mais de 1.400 páginas!
Nos últimos 50 anos muitos avanços foram feitos no estudo do câncer de pulmão, principalmente no que se refere a etiologia, diagnóstico e tratamento cirúrgico para estágios precoces. Infelizmente a grande maioria dos pacientes é diagnosticada em fases avançadas da neoplasia, deixando para estes as opções de radioterapia e quimioterapia. Terapias mais avançadas como drogas-alvo através da análise molecular dos tumores estão cada vez mais se inserindo no tratamento dos tumores pulmonares.
Com todos os avanços feitos até hoje no tratamento e diagnóstico do câncer de pulmão nos últimos 60 anos historiados, obtivemos um ganho muito pálido no controle deste tumor. A chance de cura nos últimos 20 anos quase triplicou, mas ainda está abaixo das duas dezenas, em valores percentuais. Há pacientes com expectativas de cura muito elevadas e outros que infelizmente não atingem este percentual. (Estatísticas norte-americanas)
Então, apesar da melhora nos resultados dos últimos anos, as perspectivas continuam sendo muito frustrantes, para um número expressivo de pacientes. Daí que justifico minha ferrenha batalha contra os fumantes com câncer, para que entendam contra o que estamos batalhando. Além disso, sabemos claramente que os componentes do cigarro são determinantes na resposta aos tratamentos, reduzindo a eficácia da quimioterapia em até 30% para algumas neoplasias. Ah! e não existe cigarro mais seguro que outro!