BLOG TRIBUNA MÉDICA - DR. SÖREN 
19-04-2014 - depois do tratamento
19-04-2014 - depois do tratamento

 

 

Desconheço que existam razões científicas para que os pacientes sejam acompanhados por apenas 5 anos após o término de seus tratamentos para o câncer. Mas foi inserido no consciente e subconsciente dos pacientes e público leigo em geral, que há uma espécie de rótulo de cura após 5 anos de acompanhamento. Isso é culpa dos próprios oncologistas.

De qualquer maneira, a razão mais plausível e lógica é que a maioria dos estudos médicos científicos envolvendo tratamentos contra o câncer usa o período de 5 anos como um número mágico e longo o bastante para determinar o impacto destas terapias em investigação. O termo “sobrevida de 5 anos” é um refrão que reflete um período longo que, se não interferido pelo aparecimento de sintomas da doença ou recaídas da neoplasia, os pacientes são considerados virtualmente curados.

Isto cria uma expectativa angustiante aos pacientes e uma sensação desconfortável aos oncologistas, pois muitas vezes temos que orientar pela continuidade do acompanhamento médico, além dos 5 anos. Mas isso não é lei ou verdade para todos os casos e nem para todas as neoplasias. Por exemplo, um tumor de pele não melanomatoso estará curado com a cirurgia, sem precisar ser acompanhado por mais do que 5 anos (na grande maioria das vezes o tempo de acompanhamento é bem inferior a este). Em outros casos, como em alguns tumores de mama, o seguimento das pacientes deve se prolongar além dos 10 anos. Outros tumores de mama precisam apenas dos cinco convencionais anos. De fato não há uma regra para todos os pacientes e nem para todas as neoplasias.

Fatores de risco de cada tumor, de cada pessoa, são indispensáveis para determinar o risco de recaída e com isto o tempo necessário de acompanhamento. Hoje em dia, definir militarmente o período de cinco anos para todos, é cair no erro do determinismo e isso contribui para uma postura na maioria dos pacientes que os leva a relaxarem as medidas preventivas após este prazo.

O tempo de acompanhamento deve ser individualizado e baseado em fatos científicos e não apenas em resoluções subjetivas ou temores infundados. O tempo mínimo para um tumor se formar, desde uma única célula até um tumor de 1 centímetro cúbico, e portanto identificável pelos métodos de diagnóstico atualmente disponíveis, é de 10 anos. O tempo máximo desta formação demora até 30 anos. Isto leva a pensar que com o evidente aumento da expectativa de vida da humanidade, assim como a melhora dos cuidados médicos e diminuição da mortalidade por muitas doenças, hoje em dia tratáveis e curáveis, as chances de uma pessoa desenvolver um câncer crescem progressivamente conforme se envelhece. O mais preocupante e assustador é que uma vez que os fatores de risco estão se incrementando na mesma medida em que o progresso tecnológico ocorre, o percentual de seres humanos desenvolvendo um segundo tumor concomitante ou de forma sequencial no decorrer da vida, poderá aumentar de forma persistente e sustentada.

Em resumo, não é correto ficar gerando expectativas por tempos definidos de acompanhamento. A prevenção e cuidados com a saúde, principalmente no que se refere ao câncer, ocorrem em todo momento, a cada dia, para todas as pessoas, sem folga nem descanso e nunca terminam, nem mesmo quando o médico dá alta ao seu acompanhamento. O marco de cinco anos pode funcionar como uma meta, mas não deve se tornar um objetivo cego e enfadonho a seguir. A vida continua depois de cinco, dez, vinte anos! Não viva em função disto. Faça de suas visitas ao oncologista apenas mais um dia de suas vidas.

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